O CONTRATO DE HOPE
Reads
O Contrato de HopeO sino da pequena capela ecoava na manhã cinzenta da Filadélfia quando Faith e Hope deixaram para trás os muros altos do orfanato Our Lady of Mercy Home. Haviam sido abandonadas ainda bebês, encontradas no mesmo dia à porta da instituição, e criadas pelas freiras como irmãs de coração. A irmã Teresa Salazar, mulher de fé inabalável e coração maternal, dera-lhes não apenas nomes simbólicos — Fé e Esperança — mas também o próprio sobrenome, como um gesto de pertencimento. Naquele instante de despedida, a freira lhes entregava um envelope com algumas economias reunidas pelas irmãs do convento, um pequeno aluguel já pago e a garantia de um emprego em uma lanchonete de shopping. “Vocês não têm o sangue dos meus filhos, mas têm o amor de uma mãe de coração”, dissera, abençoando-as com lágrimas nos olhos.A vida adulta começava para as duas jovens sem família. Hope era a mais forte, a que carregava nos ombros a responsabilidade. Faith, delicada e sonhadora, trazia no olhar uma fragilidade que cedo se transformaria em dor. Dividiam uma kitnet modesta, viviam de turnos na lanchonete e sonhavam com a faculdade, economizando cada centavo. A felicidade simples parecia possível, até que os primeiros sinais surgiram: desmaios frequentes, perda de peso, dores intensas.Quando os exames chegaram, a realidade rasgou suas esperanças. Faith fora diagnosticada com câncer agressivo no intestino, com risco de metástase no fígado. Para além das cirurgias e do tratamento, havia a chance de que fosse necessário transplante de medula. Hope, ao ser testada, descobriu ser compatível e poderia doar. Mas tudo tinha um preço impossível: as economias guardadas para a faculdade foram consumidas em consultas, biópsias e medicamentos.Desesperada, Hope dobrou os turnos no restaurante, assumindo também o horário da irmã. Pediu à gerente, senhora Mirtes, que lhe desse a oportunidade de trabalhar mais, prometendo não desmoronar. “Eu preciso aguentar, porque ela só tem a mim”, disse com lágrimas, recebendo um aceno cúmplice da gerente. O corpo mal resistia, mas a alma estava decidida. Faith era sua única família, sua razão de existir.Foi nesse cenário de exaustão que o destino colocou Hope diante de uma escolha que mudaria sua vida. Certa tarde, ao servir duas jovens clientes — Christy e Brittany — escutou a palavra proibida: leilão. Intrigada, arriscou-se a perguntar. As duas, após um instante de desconfiança, confessaram: havia um clube discreto na cidade onde, uma vez por mês, garotas vendiam sua virgindade para homens ricos. Elas próprias haviam passado por isso. Cada uma recebera um milhão de dólares, suficiente para pagar integralmente a faculdade, comprar um pequeno apartamento e um carro popular. Agora, viviam melhor e mantinham namoro com os mesmos homens que as haviam comprado.O coração de Hope disparou. Vergonha, medo e desespero se misturaram. Mas ao pensar em Faith, não hesitou: pediu que a levassem até lá. As duas, impressionadas pela beleza natural da jovem — pele morena clara, olhos verdes luminosos, cabelos cacheados dourados, corpo curvilíneo —, garantiram que ela conseguiria ainda mais. Prometeram apresentá-la ao homem certo: Mark Romano, conhecido por proteger as garotas e encaminhá-las para homens de confiança.Naquela mesma tarde, após sair mais cedo para levar Faith ao médico, Hope encontrou-se com as novas conhecidas e entrou no carro simples delas. Para ela, aquele veículo já era luxo. “Espere até ver um carro de verdade”, brincaram as duas. No caminho, explicaram que Mark poderia oferecer algo ainda melhor do que o leilão: um contrato.O clube era imponente por dentro, discreto por fora. Segurança rígida, luxo sufocante. Hope, com os nervos à flor da pele, foi apresentada a Mark. Elegante, educado, mas frio em sua objetividade, ele a ouviu em silêncio enquanto Christy e Brittany contavam sua história. Quando Hope confirmou que estava disposta a vender sua virgindade para salvar a irmã, Mark explicou sem rodeios: no leilão, ela seria entregue ao comprador, sem limites, sujeita a qualquer desejo. Hope empalideceu.Então veio a proposta inesperada. Mark tinha um amigo, um homem poderoso que precisava de um casamento por contrato. Anthony Moretti Vitale, herdeiro de uma das famílias mais tradicionais da Filadélfia, fora pressionado pelo avô, em estado terminal de câncer, a se casar e gerar um herdeiro em até dois anos. Caso contrário, perderia a fortuna e o nome da família.Havia, porém, um problema: Anthony mantinha há mais de um ano um romance secreto com sua secretária, Antonella De Luca. Casada e mãe, Antonella era ardilosa e ambiciosa. Todos acreditavam que o marido dela não sabia da traição, mas a verdade era ainda mais sombria: ele era cúmplice, um verdadeiro gigolô que lucrava com a relação extraconjugal da esposa. O avô de Anthony, homem de princípios rígidos, proibira terminantemente que o neto se casasse com “essa rameira”. Ou Anthony encontrava outra mulher, ou perderia tudo.
Updated at